PARTE I A História, Os Cristãos-Novos

    Após a expulsão dos judeus da Espanha pelos Reis Católicos em 1492, cerca de 60.000 judeus que recusaram-se a se converter à religião cristã emigraram para Portugal. D. João II, influenciado por judeus importantes na Corte, recebe estes judeus em Portugal, mas impõe o pagamento de oito ducados de ouro, quantia que era elevada para a época. Ele pretendia com isso,  a fixação de artesãos especializados, que faltavam em Portugal. Com a morte de D. João II, sucede-lhe D. Manuel I, um monarca que se revelou tolerante para com aqueles judeus que não podiam pagar.

Conforme consta no livro do jornalista e autor Elias Lipiner, D. Manuel, ao se casar com Isabel (da Espanha), filha de Isabel I e Fernando II, aceitou inserir no contrato de casamento uma cláusula que garantia expressamente a expulsão dos judeus de seu reino, a pedido de sua noiva. Para cumprir com esta cláusula, D. Manuel expede, em dezembro de 1496, um decreto em que determina a saída de Portugal dos judeus ainda não convertidos ao cristianismo, sob pena de morte, dando o prazo até outubro de 1497, garantindo-lhes meios de transporte para que pudessem ir embora. 

Coisa que nunca ocorreu, pois o plano verdadeiro do monarca era a conversão dos judeus (forçadamente), e não sua partida, pois estes lhe davam lucro. Assim, em abril de 1497, proclama novas ordens para que os filhos menores de 14 anos dos judeus que optassem pelo exílio ao invés da conversão, fossem retirados da família para serem batizados e criados em Portugal dentro da doutrina religiosa, por famílias cristãs.

O rei ordenou que todos fossem a Lisboa para cumprir a promessa de ajuda com os meios de transporte. Porém, ao se reunirem no local, descobriram se tratar de uma armação. Através da violência com os judeus que ainda não haviam aceitado voluntariamente a conversão, que tiveram seus filhos arrancados à força e avisou aos pais que deveriam aceitar a conversão, caso quisessem continuar a conviver com seus filhos em vida. 

O prazo foi de três dias, onde foram privados de comida e bebida, e ao fim deste prazo foram submetidos à mesma violência que seus filhos, foram arrastados

"(...) pelas pernas, outros pelas barbas e cabelos, dando-lhes punhadas no rosto, e espancando-os, às igrejas onde lhes deitaram a água, os levaram". E assim é que foram batizados e transformados em cristãos "cristãos-novos".

E foi assim que para fugir das perseguições em Portugal e também na Espanha, muitos cristãos-novos em princípios do século XVI vieram para o então  Novo Mundo, terra com um futuro promissor e, consequentemente, para o Brasil, que apesar de ser colônia do reino de Portugal, era considerado um local de refúgio e recomeço por não possuir (ainda) um Tribunal da Inquisição nem uma estrutura eclesiástica firme. 

Aqueles que não retomavam as práticas judaicas ao chegar, preferiam manter as aparências e ocultar totalmente suas origens para que sua família não fosse discriminada, crescendo seus filhos e gerações seguintes na fé católica e sem ter conhecimento sobre a antiga crença de seus antepassados. 

Com a instituição da inquisição no Brasil, nasceu aqui o Criptojudeu, que era o termo usado para se referir aos judeus que praticavam sua fé e seus costumes em segredo, por receio de perseguições religiosas, ao mesmo tempo que publicamente praticam outra religião (Católica é claro). 

E foi neste contexto histórico que nossos antepassados judeus viveram no Brasil, pois aqui também tivemos o tribunal da inquisição instaurado. Tanto no Brasil como na América Espanhola o criptojudaísmo iniciou com a chegada das famílias dos colonizadores ibéricos, sendo muitas destas famílias de cristãs-novas, mas que não deixaram de praticar seus costumes e orações judaicas em segredo.

No Brasil, alguns historiadores afirmam que a presença judaica começou com o descobrimento, pois membros da tripulação de Pedro Álvares Cabral eram de origem judaica cristã-nova. Podemos ver na citação abaixo, do Museu da História da Inquisição no Brasil:

http://www.museudainquisicao.org.br/

http://www.museudainquisicao.org.br/artigos/a-espanha-sefarad-se-torna-a-maior-colonia-judaica/



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