PARTE I A Genealogia de Teresa

     

Teresa com sua primeira filha no colo, 1962, São José dos Pinhais

São muitas as ramificações encontradas na ancestralidade de Teresa, citarei apenas algumas e farei a separação das linhagens e assuntos, por capítulos. Começando do mais antigo daquela linhagem, descendo até chegar em Teresa.

Desde pequena soube que era descendente de portugueses e índios, por parte de minha mãe e de alemães e portugueses por parte do meu pai, mas não sabia nada além disso. Queria saber mais, queria detalhes sobre aqueles nomes que via na minha árvore genealógica. Comecei a me aprofundar e a me dedicar no estudo dos indivíduos que eu já sabia os nomes e procurar o máximo de informação que pudesse encontrar sobre elas. 

Quando estudava sobre a genealogia de Teresa e entrei no assunto sobre os judeus sefarditas (o termo sefardita hoje corresponde a todo judeu que teve sua ascendência na Espanha e de lá foram para Portugal, Brasil, Turquia, Marrocos e norte da África)fiquei impressionada com a riqueza de informações que tinha sobre o tema. Portugal liberou ao público os arquivos sobre a inquisição em Portugal, através do Arquivo Nacional Torre do Tombo, onde disponibilizou todos os processos inquisitórios e através deles, temos muitas informações, pois era feito  a genealogia dos prisioneiros. 

Fui pesquisando sobre o assunto e descobri que também fazia parte dessa história, assim como muitos brasileiros, era descendente desses judeus que foram expulsos de Portugal e vieram ao Brasil fugindo da inquisição. 

Nunca imaginei que fosse descendente de judeus, pois nasci Católica e assim como eu (que tenho o segundo nome Aparecida), todos os meus irmãos têm no primeiro ou no segundo nome, nomes de personalidades católicas (Terezinha, Fátima, Maria, Marcos, Rocio, Luiz e eu, Aparecida). Eu, que já fui vestida de anjo na procissão aos oito anos de idade para pagar uma promessa de minha mãe.

Por um desvio na história, toda uma cultura foi alterada na nossa família. 

Assim, passou o aniversário de minha mãe e eu entregava em partes seu presente de aniversário. Sempre que descobria algo novo, lhe contava sobre a descoberta. Quase sempre não eram histórias com finais  felizes. As descobertas que fiz sobre essa parte da família eram muito tristes e mais tristes ainda quando li parte do processo inquisitório de Maria da Costa e seu pai João Lopes. Pude ver no olhar de minha mãe, a indignação pela tragédia cometida contra a família.

     Quando Maria da Costa  foi presa, seu filho Diogo (decavô de Teresa) tinha 8 anos de idade. Perdeu a mãe nessa idade, pois Maria da Costa ficou presa por 6 anos e nesse tempo que esteve presa, foi torturada incontáveis vezes.  Pelo que verificamos no processo e entendemos, ela foi declarada culpada e geralmente nestes casos o fim seria a morte pelo garrote ou queimada na fogueira como herege. Provavelmente esse foi o seu fim. 

O curso de uma vida interrompida, Maria da Costa, despida de tudo o que lhe pertenceu algum dia, inclusive de sua própria vida, provavelmente morta em 1624, em Lisboa, Portugal. Diogo mais tarde veio ao Brasil, onde estavam seu pai e seu irmão, Raposo Tavares. 

Minha mãe quando ouviu essa história disse que lembrava de quando era criança, muito pequena e sua avó Joaquina lhe falava para não confiar na Igreja Católica, pois “eles” eram pessoas que fizeram muito mal ao nosso povo. Até aquele momento, Teresa não sabia o que aquelas palavras de sua avó significavam. Talvez não tenha haver com essa história, mas isso, nunca saberemos ao certo.

Com o comentário de minha mãe, fui então em busca da sua genealogia materna (pois até então, tudo que descobrira sobre os judeus era na parte paterna de Teresa). Fui me aprofundar na genealogia materna, já que sua avó Joaquina era mãe de sua mãe.

Então, descobri que Joaquina Machado Ferreira (avó materna de Teresa, mãe de Belmira) era prima em terceiro grau de Anna Maria da Rocha (avó paterna de Teresa, mãe de Pedro Alves da Rocha) que também, ambas eram primas em terceiro grau de Cândido Alves da Rocha (avô paterno de Teresa, pai de Pedro e esposo de Anna Maria da Rocha). Sendo Joaquina Machado Ferreira descendente de Maria Rosa Bueno da Rocha, sendo Anna Maria da Rocha e Cândido Alves da Rocha descendentes de Luzia Bueno da Rocha (irmã da Maria Bueno da Rocha).

A mesma linhagem que chegamos até Maria da Costa (não somente, pois em outras linhagens como Piquerobi, Marteen Leme, Vicente Annes Bicudo também são ascendentes dos Bueno da Rocha).

Nos resta a dedução de que uma cultura oral se manteve na família, no mais profundo e escondido comentário: contar a neta como quem lhe conta um segredo, que não deveria ser dito em público, mas que deveria saber.  

Encontrei outros judeus na genealogia de Teresa, ou como foram chamados após o batismo forçado, de cristãos novos (e na Genealogia de Antônio também). 

A pergunta que deveríamos fazer é: “Como teria sido se não houvesse a expulsão dos judeus?” Perderam tudo porque faziam parte de uma cultura diferente e pagaram o mais alto preço: além de perderem seus bens, que foram confiscados pela Igreja/Governo, perderam suas famílias, foram filhos que perderam seus pais e pais que perderam seus filhos.





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